Centenas de cestas básicas com alimentos que deveriam ser entregues para os indígenas Yanomami estão paradas em armazéns. Isso porque os militares só aceitam realizar a entrega caso a Funai pague R$ 1,6 milhão. Enquanto os militares não cumprem seu papel, os Yanomami ficam sem a alimentação necessária diante de uma crise humanitária que se arrasta há meses. Essa é a mais recente descoberta inédita da Agência Pública, que acabamos de revelar em reportagem publicada hoje. É graças ao apoio de leitores como você que conseguimos investigar as inúmeras ameaças à vida e aos direitos indígenas. Dessa vez, descobrimos que, desde março, a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, Joenia Wapichana, cobra do Ministério da Defesa auxílio para entregar as cestas. Em um dos pedidos, Wapichana solicita que os militares utilizem rios e igarapés para chegar até os indígenas. A resposta do Ministério da Defesa é que, para entregar 5.318 cestas básicas aos Yanomami por vias fluviais a pasta precisaria receber R$ 1,6 milhão a cada dois meses. A reportagem da Pública recebeu imagens com centenas de cestas básicas paradas em armazéns em Boa Vista (RR) e em Manaus (AM) à espera de uma solução. Além disso, a Pública descobriu que os militares não cumpriram o pedido da Funai de entregar 12,6 mil cestas mensalmente aos Yanomami por vias aéreas, de preferência por helicópteros. O pedido foi feito em fevereiro. A Pública cobre a emergência de saúde e social dos Yanomami desde o governo Bolsonaro. Em dezembro de 2022, revelamos que as crianças Yanomami estavam morrendo 13 vezes mais por causas evitáveis do que a média nacional. Neste ano, mostramos que o ex-presidente Hamilton Mourão admitiu nos encontros do Conselho Nacional da Amazônia Legal que sabia das invasões de garimpeiros na terra Yanomami e da necessidade de combatê-las, mas não agiu. Recentemente comprovamos que o governo de Bolsonaro destinou R$ 215,8 mil para missionários nas terras Yanomami enquanto a crise humanitária se aprofundava sem a devida assistência do Estado.
Thiago Domenici
Diretor da Agência Pública e chefe da sucursal em Brasília
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