quarta-feira, 21 de junho de 2023

Militares recusam entrega de cestas básicas aos Yanomami

Centenas de cestas básicas com alimentos que deveriam ser entregues para os indígenas Yanomami estão paradas em armazéns. Isso porque os militares só aceitam realizar a entrega caso a Funai pague R$ 1,6 milhão. Enquanto os militares não cumprem seu papel, os Yanomami ficam sem a alimentação necessária diante de uma crise humanitária que se arrasta há meses. Essa é a mais recente descoberta inédita da Agência Pública, que acabamos de revelar em reportagem publicada hoje. É graças ao apoio de leitores como você que conseguimos investigar as inúmeras ameaças à vida e aos direitos indígenas. Dessa vez, descobrimos que, desde março, a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, Joenia Wapichana, cobra do Ministério da Defesa auxílio para entregar as cestas. Em um dos pedidos, Wapichana solicita que os militares utilizem rios e igarapés para chegar até os indígenas. A resposta do Ministério da Defesa é que, para entregar 5.318 cestas básicas aos Yanomami por vias fluviais a pasta precisaria receber R$ 1,6 milhão a cada dois meses. A reportagem da Pública recebeu imagens com centenas de cestas básicas paradas em armazéns em Boa Vista (RR) e em Manaus (AM) à espera de uma solução. Além disso, a Pública descobriu que os militares não cumpriram o pedido da Funai de entregar 12,6 mil cestas mensalmente aos Yanomami por vias aéreas, de preferência por helicópteros. O pedido foi feito em fevereiro. A Pública cobre a emergência de saúde e social dos Yanomami desde o governo Bolsonaro. Em dezembro de 2022, revelamos que as crianças Yanomami estavam morrendo 13 vezes mais por causas evitáveis do que a média nacional. Neste ano, mostramos que o ex-presidente Hamilton Mourão admitiu nos encontros do Conselho Nacional da Amazônia Legal que sabia das invasões de garimpeiros na terra Yanomami e da necessidade de combatê-las, mas não agiu. Recentemente comprovamos que o governo de Bolsonaro destinou R$ 215,8 mil para missionários nas terras Yanomami enquanto a crise humanitária se aprofundava sem a devida assistência do Estado.
Thiago Domenici
Diretor da Agência Pública e chefe da sucursal em Brasília





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