Conter aquecimento global a 1,5°C requer ação coletiva sem precedentes
Giovana Girardi giovana.girardi@apublica.org Chefe da Cobertura Socioambiental |
Esse é o tom de um relatório divulgado nesta quinta-feira (24) pelo Programa para o Meio Ambiente da ONU. O Gap Report (ou Relatório sobre a Lacuna de Emissões) apresenta todo ano um raio X de quanto gás estufa estamos lançando na atmosfera e a lacuna entre as ações que estão sendo tomadas para reduzi-las versus o que seria necessário para conter o aumento da temperatura dentro do que foi acordado pelos países – a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
Isso é o que foi combinado há quase nove anos, no Acordo de Paris. Mas desde que o mundo decidiu agir coletivamente para tentar conter o aquecimento global, as condições do planeta só pioraram. A lacuna não diminui. De acordo com o Gap Report, a continuidade das políticas atuais vai levar a temperatura média da Terra a subir para 3,1°C até o fim do século.
Agora pense que o mundo já está enfrentando ondas de calor, tempestades e secas muito severas com o aquecimento que já provocamos. Nos últimos 15 meses, em 14 deles a temperatura bateu o limiar de 1,5°C. Os cientistas dizem que ainda não dá para afirmar que esse limite já foi ultrapassado de modo sustentado.
“Ou seja: não quer dizer que o Acordo de Paris já era. Ainda. Mas pode ser questão de apenas mais alguns anos.
Por isso o tom de urgência. Porque “cada fração de grau que possa ser evitada conta para salvar vidas, proteger economias, evitar danos, conservar a biodiversidade e a habilidade de rapidamente voltar a baixar a temperatura caso o limite realmente seja ultrapassado”, como frisa Inger Andersen, diretora executiva do Programa da ONU para o Meio Ambiente, na introdução do relatório.
O relatório indica que para segurar o aquecimento nesse patamar de 1,5°C, as emissões mundiais precisam cair 42% até 2030 na comparação com o que era emitido em 2019. Até 2035, a queda tem de chegar a 57%.
Mas como desde o Acordo de Paris as emissões cresceram, a tarefa ficou mais difícil. Entre 2022 e 2023, por exemplo, o aumento foi de 1,3%. O que significa que, para alcançar essa meta nos próximos 11 anos, a queda de emissões precisaria ser de 7,5% por ano. Daí que vem a conclusão de que o esforço necessário é sem precedentes.
“Isso exigirá a superação de formidáveis barreiras políticas, de governança, institucionais e técnicas, bem como um aumento sem precedentes no apoio prestado aos países em desenvolvimento, juntamente com uma reformulação da arquitetura financeira internacional”, aponta o relatório.
Isso significa rever os compromissos adotados em Paris de modo substancial, que é o que se espera que seja feito até o começo do ano que vem, antes da 30ª Conferência do Clima da ONU, a COP 30, em Belém.
“As promessas atuais [de reduções das emissões] não estão nem perto desses níveis, o que nos coloca no caminho, no melhor cenário, de um aquecimento global de 2,6°C neste século. O que vai necessitar de uma remoção futura dispendiosa e em grande escala de dióxido de carbono da atmosfera para reduzir o excesso”, escreve Andersen. “Essencialmente, precisamos de uma mobilização global numa escala e ritmo nunca vistos.”
Quando ela fala nesse aquecimento de 2,6°C, ela se refere ao total cumprimento de todas as metas já apresentadas pelos países. Só que nem elas ainda estão sendo cumpridas e já precisam ser revistas para cima. Esse novo ajuste de contas é o que se espera que seja concluído no ano que vem no Brasil, por isso tanta atenção tem sido dada para a COP30.
E, apesar de todos os países terem de colaborar, o foco da cobrança está nos países do G20, que juntos respondem por 77% das emissões globais. Entre eles, os seis maiores emissores globais (China, Estados Unidos, Índia, União Europeia – contando juntos os 27 países do bloco –, Rússia e Brasil) somam 63% das emissões do planeta.
Nesta tarde, em Washington, haverá uma reunião da Força-Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima do G20, onde devem ser apresentados compromissos em adaptação, mitigação e financiamento climático. Difícil imaginar que venha algo muito significativo. Mas o lançamento do Gap Report na mesma data bem podia servir para dar um chacoalhão no pessoal.
O relatório indica que para segurar o aquecimento nesse patamar de 1,5°C, as emissões mundiais precisam cair 42% até 2030 na comparação com o que era emitido em 2019. Até 2035, a queda tem de chegar a 57%.
Mas como desde o Acordo de Paris as emissões cresceram, a tarefa ficou mais difícil. Entre 2022 e 2023, por exemplo, o aumento foi de 1,3%. O que significa que, para alcançar essa meta nos próximos 11 anos, a queda de emissões precisaria ser de 7,5% por ano. Daí que vem a conclusão de que o esforço necessário é sem precedentes.
“Isso exigirá a superação de formidáveis barreiras políticas, de governança, institucionais e técnicas, bem como um aumento sem precedentes no apoio prestado aos países em desenvolvimento, juntamente com uma reformulação da arquitetura financeira internacional”, aponta o relatório.
Isso significa rever os compromissos adotados em Paris de modo substancial, que é o que se espera que seja feito até o começo do ano que vem, antes da 30ª Conferência do Clima da ONU, a COP 30, em Belém.
“As promessas atuais [de reduções das emissões] não estão nem perto desses níveis, o que nos coloca no caminho, no melhor cenário, de um aquecimento global de 2,6°C neste século. O que vai necessitar de uma remoção futura dispendiosa e em grande escala de dióxido de carbono da atmosfera para reduzir o excesso”, escreve Andersen. “Essencialmente, precisamos de uma mobilização global numa escala e ritmo nunca vistos.”
Quando ela fala nesse aquecimento de 2,6°C, ela se refere ao total cumprimento de todas as metas já apresentadas pelos países. Só que nem elas ainda estão sendo cumpridas e já precisam ser revistas para cima. Esse novo ajuste de contas é o que se espera que seja concluído no ano que vem no Brasil, por isso tanta atenção tem sido dada para a COP30.
E, apesar de todos os países terem de colaborar, o foco da cobrança está nos países do G20, que juntos respondem por 77% das emissões globais. Entre eles, os seis maiores emissores globais (China, Estados Unidos, Índia, União Europeia – contando juntos os 27 países do bloco –, Rússia e Brasil) somam 63% das emissões do planeta.
Nesta tarde, em Washington, haverá uma reunião da Força-Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima do G20, onde devem ser apresentados compromissos em adaptação, mitigação e financiamento climático. Difícil imaginar que venha algo muito significativo. Mas o lançamento do Gap Report na mesma data bem podia servir para dar um chacoalhão no pessoal.
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