Como garantir, na Bahia, a defesa do direito humano a uma alimentação adequada? Para responder a questões como essa, e em total sintonia com os eixos do Programa Bahia Sem Fome, a professora de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Virgínia Machado, vem coordenando o projeto de extensão “Educação Alimentar e Nutricional em Comunidades” e a ação curricular “Nutrição, Gastronomia e Comunidade”.
As atividades consistem na realização de oficinas. Já aconteceram no bairro de Águas Claras, em Salvador, durante um trabalho com 20 mulheres no Movimento Cultural de Águas Claras (Moca), e, mais recentemente, no bairro da Boca do Rio, na Comunidade Kolping São Francisco de Assis.
“Pelo próprio nome das atividades, dá para perceber o quanto somos articulados com o Programa Bahia Sem Fome”, diz a professora, que considera crucial, nos dias de hoje, realizar ações que busquem a superação da fome e a garantia do direito humano a uma alimentação adequada.
“Quando o Bahia Sem Fome foi lançado, vimos uma possibilidade de trabalhar a questão da segurança alimentar e nutricional de modo articulado com o Programa. A ACCS não é uma ação ligada ao Bahia Sem Fome, mas propõe a discussão de temas relacionados à alimentação adequada e aos princípios do Guia Alimentar da População Brasileira”, explica Machado, para quem é preciso popularizar cada vez mais o Guia Alimentar, reeditado em 2014 e que, segundo ela, é um dos melhores guias do mundo. “Como vamos pensar a alimentação saudável? A partir das informações já disseminadas pelo Guia”, assegura ela.
Comunidades
O trabalho realizado junto às comunidades consiste na realização de oficinas gastronômicas, com foco nas habilidades culinárias e nas discussões sobre a alimentação. A partir do contato da comunidade com o Guia Alimentar para a População Brasileira, inicia-se um processo de discussão sobre qual produção de comida pode ser desenvolvida. “Não existem respostas prontas. Não dá para falar de comida apenas pelo seu aspecto nutricional. Para além da questão da nutrição, tem também todo o aspecto simbólico”, diz a professora, lembrando que “nas oficinas temos a alimentação como um foco. A gente está cozinhando e falando sobre alimentação, mas, a partir disso, falamos também sobre outros elementos que estão relacionados e precisam ser lembrados quando tratamos de alimentação adequada. Pensamos a composição nutricional, o nível de processamento de alimentos que vai determinar se é mais ou menos saudável, mas tem também a questão de como ele é produzido, como é acessado, qual habilidade que preciso ter para transformar aquele alimento em comida”.
Machado destaca, ainda, que “para ter uma alimentação saudável, num contexto de promoção de saúde, é preciso pensar a divisão do trabalho doméstico, quem cozinha, por que esse trabalho ainda hoje recai mais sobre as mulheres. Nós discutimos todas essas questões, que não são apenas do ponto de vista nutricional, mas, também, relacionadas à vida em sociedade”.
Para a professora, é preciso pensar uma alimentação que seja saudável em termos nutricionais, mas social e ambientalmente sustentável: “nossa proposta é fazer uma discussão mais ampla sobre alimentação. As pessoas que participam das oficinas se tornam mais autônomas para escolher o que comer, mas devem também se atentar para a exigibilidade do direito humano a ter uma alimentação adequada”.
Em Águas Claras, as mulheres que participaram das oficinas trabalham em cozinhas de restaurantes, creches e programas sociais. “No Moca, tem mulheres que fazem sopas para as comunidades. Tem uma atividade denominada Sopa e Poesia”, conta a professora, informando que foi realizada uma oficina de fundos para ensiná-las a utilizar algumas alternativas para não utilizar tabletes ultraprocessados, como caldo Knorr, Maggi, Sázon Goya, entre outros. “A ideia não é reproduzir perspectivas de gourmetização, mas de criar possibilidades, educando para novos gostos”, completa.
As oficinas vêm sendo realizadas por uma equipe formada, além da professora Virgínia Machado, que é nutricionista, por mais três outras professoras de Gastronomia: Tereza Cristina de Oliveira, Mariana Melo e Andrea Sgrillo.
Machado esclarece ainda que a ideia não é recomendar que a comunidade coma determinado alimento em lugar de outro, mas muito mais abrir um processo de discussão sobre o que acontece quando se come determinado alimento, o que significa, quais as consequências. “Não é uma oficina de recomendações”, diz ela, afastando a ideia de uma educação que visa uma reprodução daquilo que é tido como regra: “a gente está comprometido com uma educação que leve à emancipação do sujeito”.
Outra discussão que vem sendo travada nas comunidades diz respeito ao potencial que as cozinhas comunitárias têm, não somente pensando na produção e fornecimento de alimentos, mas, também, na mobilização para pensar esse direito humano à alimentação adequada e como garantir esse direito.
“Na Comunidade Kolping, na Boca do Rio, vamos desenvolver estudos sobre quais estratégias de aproveitamento integral dos alimentos e receitas que eles têm produzido. Vamos fazer uma avaliação dessas receitas pensando em como aquilo que é feito de modificação reverbera em um melhor perfil nutricional e propor mudanças para aquilo que pode ser melhorado”, afirma.
Fonte: Ascom/BSF
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