domingo, 26 de março de 2023

Mourão ataca a Pública, mas fatos são fatos

Olá, tudo bem? Sou Anna Beatriz Anjos, repórter da Agência Pública.
Nos últimos meses, você deve ter se deparado com fotos de indígenas Yanomami desnutridos. As imagens aterradoras de crianças, adultos e idosos com ossos visíveis sob a pele, que infelizmente têm inundado as redes, nos dão a dimensão da tragédia que essas comunidades vêm enfrentando por causa da invasão de 20 mil garimpeiros ilegais em seu território, incentivada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Eu, assim como você, sinto uma tristeza profunda ao olhar para essas fotos. Sinto que falhamos enquanto país e sociedade. Não só porque faço a cobertura da questão indígena já há alguns anos e sou apaixonada pelo modo de vida, resiliência e capacidade de resistência dessas populações. Mas também porque imagino o sofrimento dessas pessoas ao assistir a seus pais, filhos e parentes morrendo por causas totalmente evitáveis enquanto seus pedidos de ajuda eram ignorados. Foi por isso que, quando descobri que o ex-vice presidente e agora senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) admitiu, em agosto de 2022, que os garimpeiros seguiam invadindo a Terra Indígena Yanomami e que era necessária uma “operação de grande envergadura” para retirá-los de lá – o que não feito pelo governo Bolsonaro –, só consegui pensar que precisava revelar isso o quanto antes para os nossos leitores. Nos últimos anos, organizações indígenas e veículos de imprensa como a Pública denunciaram exaustivamente o que vinha acontecendo com os Yanomami, mas Bolsonaro não fez o necessário para enfrentar o problema. Quando me deparei com a fala do Mourão, percebi que era mais uma prova contundente de que o ex-governo tinha conhecimento da situação e deliberadamente não agiu para frear a crise humanitária sem precedentes que acomete os Yanomami na maior terra indígena do país. Essa fala do general da reserva do Exército aconteceu em uma das dez reuniões do Conselho Nacional da Amazônia Legal, do qual ele era presidente. Obtive as atas inéditas dos encontros pela Lei de Acesso à Informação (LAI) e publiquei duas reportagens contando o que Mourão e outros integrantes do governo discutiram nesses eventos. Essas reportagens fazem parte do especial "Caixa Preta do Bolsonaro", viabilizado graças ao apoio dos Aliados da Pública. Na semana passada, revelamos outro forte indício da inação proposital da gestão Bolsonaro em relação à crise Yanomami: um “plano estratégico” de dezembro de 2021 mostrando que o setor de inteligência do Ministério da Justiça – na época comandado por Anderson Torres, hoje preso – sabia que desnutrição infantil, mortalidade infantil e malária atingiam oito regiões com 22 aldeias na TI Yanomami. Ou seja, eles sabiam muito bem do problema, mas escolheram não agir. Antes de publicar as reportagens, dei a Mourão a oportunidade de se manifestar a respeito do que ele mesmo disse em reuniões oficiais. Se tivesse respondido, teríamos colocado sua defesa no texto matéria – dar espaço para o "outro lado" é praxe no jornalismo profissional. Ele preferiu ir às redes sociais depois que os textos já estavam no ar para atacar a Pública, dizendo que nosso jornalismo é de “baixa qualidade” e que distorcemos os fatos. Como justificativa, elencou uma série de mentiras: confundiu, por exemplo, as Terras Indígenas Yanomami e Raposa Serra do Sol, ambas em Roraima, mas de características e habitantes totalmente diferentes. E teve a desfaçatez de dizer que nos últimos quatro anos “não houve qualquer denúncia” em relação à crise Yanomami. Por que, então, ele próprio admitiu que o governo precisava realizar uma grande ação para expulsar os garimpeiros do território? O que dificulta a vida do senador é que as atas são documentos oficiais e agora públicos, pois estão disponíveis no site da Pública a qualquer cidadão que queira consultá-las. Mourão pode divulgar mentiras para tentar se eximir de eventuais responsabilizações, mas os fatos são incontornáveis. Antes escondidos, agora estão expostos à sociedade e a autoridades nacionais e internacionais para que os examinem e tirem suas próprias conclusões.A Pública existe justamente para jogar luz sobre fatos como esses. Nosso jornalismo sério, rigoroso e comprometido com os direitos humanos é forte e não se intimida frente aos interesses escusos de quem tenta detratá-lo. Os ataques de Mourão mostram, inclusive, que o jornalismo da Pública está no caminho certo. Nós incomodamos os poderosos que precisam ser incomodados, seja porque cometem crimes, seja porque atacam a democracia, seja porque ficam de braços cruzados diante de tragédias humanitárias como a que atinge os Yanomami.
Você pode demonstrar que Mourão está errado quando diz que nosso jornalismo é de “baixa qualidade” se tornando um Aliado da Pública hoje. Ter os leitores ao nosso lado é essencial para seguirmos fazendo o jornalismo que precisa ser feito.
APOIO O JORNALISMO QUE INCOMODA OS PODEROSOS - E em março, mês do aniversário da Pública, todo mundo que entrar para o Programa de Aliados vai ganhar de presente nosso livro comemorativo de aniversário, em que contamos nossa história e refletimos sobre o futuro. Aproveite!
Até a próxima!
Anna Beatriz Anjos
Repórter de Clima da Agência Pública





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