"Se tivesse menos apadrinhados pagaria melhor aos professores"
- afirma o vereador Claudevane Leite, pré-candidato a prefeito de Itabuna pelo PRB. Em seu segundo mandato, Vane do Renascer, como é conhecido, ganhou destaque na Câmara pela atuação na Comissão Especial de Inquérito.
Ele foi relator das investigações que possibilitaram ao Ministério Público Estadual denunciar mais de 40 pessoas, entre elas vereadores, assessores e funcionários públicos. Mas o trabalho na área social começou há mais de 20 anos e ganhou força com o Instituto Renascer, no Nova Califórnia.
Em entrevista exclusiva ao A Região e à Morena FM, Vane fala dos projetos para melhorar a saúde, educação, saneamento e mobilidade urbana. E explica como vai viabilizar tudo. CLIC ABAIXO E LEIA NA ÍNTEGRA

Por que deixou uma reeleição certa de vereador para candidatar-se a prefeito?
Em 2008 fui procurado por muitas pessoas da comunidade que queriam meu nome. Naquela época era inviável. De lá pra cá o itabunense vem exigindo a candidatura. Analisando a situação de Itabuna, onde há uma insatisfação grande com o atual gestor, e uma rejeição à candidata Jussara Feitosa (do PT), decidi concorrer.

Dos três principais, você é o menos conhecido.
Antes de ser vereador já trabalhava com políticas publicas. Sou uma pessoa que criou, em 86, o projeto Bom de Bola em Itabuna, um dos maiores campeonatos do mundo na época. Dessa competição fizemos uma seleção para disputar o Campeonato Baiano e fomos vice-campeões. Desses jogadores, cinco foram convocados para a seleção estadual.

Hoje não há nenhum projeto bem elaborado para o esporte.
Uma ou outra competição e só. Fazer esporte é barato. Queremos trazer de volta o Colônia de férias, Campeonato da Cidade, o Projeto Bom de Bola, que tem um cunho social enorme. O projeto faz a criança entender que pode jogar bola, mas que precisa também estudar.

A falta de políticas públicas é um dos fatores de violência
Exatamente. Itabuna é uma cidade onde não existe política pública. Os indicadores dizem isso. Hoje, pelo menos 80% das mortes são ligadas ao uso ou tráfico de drogas. Morre um jovem hoje, vem nove no caminho, infelizmente. Isso é uma questão que deve ser tratada envolvendo a sociedade, todos.

Como seriam desenvolvidas essas ações?
Queremos aproveitar as escolinhas e os profissionais. Vamos fornecer material esportivo e a prefeitura pode levar alguém para fazer palestra sobre drogas, sexo. Vamos desenvolver ações para valorização da cultura e possibilitar mais lazer. Tenho feito isso timidamente no Renascer e tem dado certo.

O que seria desenvolvido?
Queremos criar um calendário esportivo com corrida rústica, natação, ciclismo. Precisamos oportunizar todas as modalidades e incentivar crianças e adolescentes à prática de esporte, porque o esporte educa, socializa e traz bem estar.

A verdade é que não existem opções em Itabuna.
Na Nova Califórnia, por exemplo, o único campo é o do Instituto Renascer, que fizemos e os meninos vão brincar lá. Não custa fazer um campo de areia, uma pracinha. Em Itabuna não tem nada, não tem teatro, cinema; quem gosta de igreja vai, quem não gosta só tem os bares por falta de opções.

Seu partido pertence a Igreja Universal. Existe a desconfiança de que, se Vane vencer, quem manda é a igreja.
Vane é uma pessoa tranquila, um homem de atitude, quem me conhece sabe disso. As pessoas estão falando sobre intervenções para nos prejudicar. O perfil do secretariado é técnico. Serão pessoas que entendam e saibam o que é educação, saúde, e não vamos abrir mão disso.

Como ter certeza disso?
Os oito anos de mandato como vereador. Não é nada demais um pastor trabalhar comigo na Câmara, mas eu não tenho nenhum. Não tenho nenhum assessor ou filho de pastor. No governo do estado, o PRP tem a Secretaria de Justiça e Cidadania, mas quem comanda é uma pessoa que não está ligada à igreja. Ele ocupa o cargo por competência.

A estrutura atual de secretarias é adequada?
Precisamos de uma Secretaria de Meio Ambiente. Penso que existem algumas secretarias que poderiam ser divisões. Vamos trabalhar respeitando a lei, que determina gastos de 54% com a folha de pagamento. A prefeitura funciona muito bem com esse teto.

Como funciona hoje?
Em 2009 o prefeito gastou um pouco mais de 70% com folha. No ano seguinte avançou para mais de 75% e, em 2011 e 2012, tenho certeza de que entrou mais gente na prefeitura. Isso é um absurdo, uma irresponsabilidade. Por isso, que falta dinheiro na saúde, na educação, em programas sociais.

Há denúncias de há pessoas que recebem salários, mas nem aparecem na prefeitura.
O Hospital de Base é um retrato desse descaso. O Estado mandava R$ 1,5 milhão para lá e R$ 1,2 milhão eram gastos com pessoal. Isso é brincar com o erário. O cidadão chega lá e não encontra remédio porque o dinheiro é gasto com cabide de emprego. É igual à Emasa. Na administração anterior, tinha em média 50 comissionados, hoje são mais de 150.

A Emasa têm jeito?
A Emasa é de economia mista e queremos transformar em autarquia municipal para reduzir impostos. Ela gasta hoje demais só com energia. Só aí vamos economizar mais de R$ 100 mil mensais.

Se eleito, o que o seu governo será diferente?
A gente quer fazer um governo diferenciado. Todo mundo fala que vai melhorar a saúde, a educação, mas de que maneira? Vamos enxugar a máquina. Ela tem que funcionar. Nos dias 10, 20 e 30 a prefeitura recebe muito dinheiro, mas os problemas mínimos não são resolvidos.

Os problemas parecem crônicos.
Itabuna é um município com problemas macros na saúde, na infraestrutura, saneamento básico, alto índice de mortalidade infantil. Itabuna é uma cidade pequena, temos três distritos. Ilhéus tem 40; Conquista tem 200 comunidades, muitas a 100 km da cidade. E em Conquista as coisas funcionam. O que falta em Itabuna é uma gestão séria, austeridade, responsabilidade, planejar a cidade e fazer com que ela comece a funcionar no primeiro dia de governo.

O atual prefeito prometeu planejar a cidade
É. Mas manda para a Câmara projetos no último dia para o prazo final. Temos que votar porque senão a cidade é penalizada. Precisamos melhorar o plano diretor, que está ultrapassado e vamos trabalhar com técnicos, porque eles sabem planejar e fazer as coisas bem feitas.

E o esgotamento?
A Emasa recebe todo mês cerca de R$ 3 milhões e não está fazendo o papel que deveria. Temos uma denúncia no Ministério Público Estadual há mais de seis anos, de que todo o esgoto domiciliar é jogado no Rio Cachoeira sem tratamento. As pessoas estão pagando uma taxa indevida e estamos cometendo um crime ambiental.

A mobilidade é ruim em Itabuna?
Tem gente querendo andar de bicicleta e não tem espaço. Na cobertura do canal da Amélia Amado não foi incluída uma ciclovia. Temos um programa de governo em que incluímos ciclovias. São intervenções muitas vezes simples, mas que precisam ser feitas.

O que acha das feiras-livres?
É um absurdo. As pessoas estão praticamente em um esgoto, vendendo carne, produtos que deterioram. É realmente desumano o que está acontecendo com os feirantes e as pessoas que compram ali. O investimento para melhorar isso é pequeno. Temos a feira do São Caetano, que queriam mudar de lugar. Estive lá conversando com os comerciantes e com a comunidade. Não havia uma pessoa que era a favor da feira sair daquele lugar, até porque é uma feira histórica. A questão é melhorar o local.

E a feira da Califórnia?
Começaram a cobrir e não terminaram. As feiras serão uma das prioridades no início de governo, assim como limpar essa cidade. Pagamos um absurdo pela limpeza e cidade continua suja, mal iluminada. Com a contribuição de iluminação publica, foram arrecadados R$ 3 milhões em 2009.

Como você vai tratar a limpeza?
Pensamos em municipalizar o serviço de limpeza e criar uma cooperativa que possa empregar cerca de 1.500 pessoas. Só seria terceirizado, em primeiro momento, o lixo hospitalar e resíduos sólidos. Uma pessoa que trabalha quatro horas por dia e com um salário mínimo não passa fome. Isso não custa nem R$ 500 mil. Em 2009, a prefeitura gastou mais de R$ 10 milhões só na limpeza.

E a destinação do lixo?
O aterro sanitário é uma questão grave e que nos preocupa. Pensamos em fazer parceria para construir um aterro para a região e não apenas uma cidade.

Como está a pavimentação da cidade?
Hoje é colocado asfalto de má qualidade sem fazer esgoto, meio-fio, jogando dinheiro no lixo. Precisamos de asfaltamento com qualidade. Itabuna tinha uma fábrica de artefatos de cimento, que é algo que gera emprego, é barato e tem mais qualidade. A prefeitura pode fazer isso nas ruas secundárias.

Como consertar a Saúde?
A prefeitura não tem feito quase nada com recursos próprios. Em uma pesquisa recente a população colocou que o principal problema era a saúde. A cidade está sendo violentada quando falta saúde, quando o esgoto está a céu aberto, quando não se tem políticas publicas para prevenir nossas crianças e adolescentes. Isso acontece e a gente não vê nenhuma ação efetiva do governo municipal. O prefeito prometeu limpar 100% do Rio Cachoeira, mas não colocou nem 1% do esgoto tratado.

O que contribui para aumentar as doenças.
Não só no Hospital de Base, mas também nos postos de saúde a situação é complicada. Na unidade da Urbis IV, por exemplo, a informática não está funcionando, ou seja, a pessoa chega para marcar um exame e não consegue. Tem que ir ao centro porque não está funcionando a informática.

Situação é critica em todos os bairros
No São Caetano, que abrange uma área muito grande, só tinha um consultório médico funcionando, porque é o único que tem ar-condicionado, então o médico se revezam. Outra coisa: médico tem que ganhar bem, mas tem que cumprir o horário. A prefeitura tem que parar de fazer de conta que paga e o médico que trabalha.

Como fica a alta complexidade?
Vou trabalhar para a Plena voltar o mais rápido possível. Muitos falam que é perseguição do governo do estado, mas não é. A questão é que o governo municipal não tem feito o seu papel. Nossa intenção é arrumar a Atenção Básica para que a gente possa voltar a ter a Gestão Plena.

A educação também é muito ruim.
O que vejo em Itabuna é que a criança não sabe o conteúdo e é aprovado. O fato da criança não repetir o ano é muito bom, mas sem saber o conteúdo não é admissível. Então o que precisa ser feito é que essa criança precisa ter um reforço em outro horário.

Faltam outras coisas que funcionem nessa área?
Conversamos com os professores e a questão é que o dinheiro da educação precisa ser gasto com educação. Itabuna tem mais cargos comissionados que Feira de Santana e isso deixa os professores chateados. Se tivesse menos apadrinhados daria para pagar melhor aos professores.

Mas existem problemas em todas as áreas, não?
Queremos que os servidores vistam a camisa do executivo porque vamos trabalhar com transparência. Mostrar como é gasto. Muitas vezes o servidor não veste a camisa da administração porque o cara entra ganhado um salário mínimo e tem que se aposentar com um salário mínimo.

Então qual a motivação para essa pessoa trabalhar?
Precisamos criar um plano de carreira, passando por provas para que o servidor possa vestir a camisa. O que não pode acontecer é colocar pessoas que muitas vezes nem vão lá trabalhar e ganham mais que o servidor que está fazendo seu trabalho.

E os investimentos na ampliação de água?
O abastecimento de água em Itabuna é um problema grave. No século XXI e as pessoas ainda pegam lata de água em Itabuna. Fora a questão da dengue. Porque às vezes chega água e as pessoas estão despreparadas com seus tanques descobertos. Itabuna é a única cidade polo onde não existe reservatório. Ou seja, a água passa, mas não fica.

O que deve feito?
Precisamos construir uma barragem. Cobramos do governo do estado e o vice-governador Otto Alencar nos garantiu que essa questão está andando. Está sendo vista a questão ambiental, licitações. Faz 12 ou 15 anos que não atraímos nenhuma indústria para Itabuna. Então precisamos trazer a Sudic para cá e reservar uma área para o centro industrial.

Como fica o centro de Itabuna?
O centro é o cartão postal da cidade. Não temos sido felizes com as últimas administrações. Mas temos um comércio bom. Não querendo desprezar Ilhéus, mas se lá tivesse um comércio como Eunápolis, nós, de Itabuna, estaríamos “dentro d’água”. Fico envergonhado pela falta de manutenção, pelo abandono das praças e do nosso rio.

A queda na qualidade dos serviços vem prejudicando Itabuna?
Na época em que Itabuna tinha uma saúde melhor as pessoas ficavam no nosso hotel, comiam em nossos restaurantes, compravam em nosso comércio. Precisamos fazer com que essa saúde volte e as pessoas virão mais para cá.

E na agricultora?
Temos a Roça do Povo, com mais de 300 lotes, onde moram mais de 500 famílias. Então, como é que a gente traz tomate, alface e outras coisas de fora?

O que deveria ser feito?
Precisamos fazer com que a Secretaria Municipal de Agricultura funcione, porque podemos produzir tudo ali na Roça do Povo. Podemos colocar uma despolpadeira, cuidar do acesso e do escoamento dos produtos. É um ótimo projeto, mas que precisa de uma nova direção.

Se não fosse o governo federal, a situação estaria caótica?
Uma coisa que funciona na cidade é setor de elaboração de projeto. Por isso, se consegue atrair recursos, mas que são mal aplicados. A maioria das obras é mal feita.

O que fará de diferente?
Vamos trabalhar com austeridade, com eficiência, com gestão, com transparência para fazer muito mais, porque os recursos dão para isso. Não vamos dispensar a parceria com o governo do estado. Itabuna recebeu nesse último período mais de R$ 300 milhões do governo federal para obras, mas a cidade está feia, cheia de buracos. É lamentável.

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