A Expo Internacional Dia da Consciência Negra encerrou os trabalhos neste 2024 consolidada como o grande encontro da cultura afro-brasileira da cidade de São Paulo. O evento da Prefeitura da capital paulista, realizado por meio da Secretaria Municipal de Relações Internacionais (SMRI), dentro da política pública São Paulo: Farol de Combate ao Racismo, já se prepara para seguir a luta antirracista durante todo o ano e promete outro grande evento em 2025. “A Expo está no calendário oficial da nossa cidade, o que mostra a preocupação da gestão em dar visibilidade à cultura e a luta antirracista. Temos muito orgulho de tudo que já realizamos e o compromisso de fazer algo ainda melhor em 2025”, conta a gerente de projetos da SMRI e coordenadora da Expo, Elaine Gomes.
Tradição que veio da África
Desde sua chegada ao Brasil como escravizados, a fama das quituteiras pretas só foi se renovando até os dias atuais. Não tem quem não se apaixone pela alquimia criada por essas mulheres misturando cores e temperos brasileiros e africanos. Um dos pratos mais tradicionais dessa mistura ancestral é o acarajé. A palavra acarajé vem do iorubá, onde akará significa "bola de fogo" e “jé” significa "comer". Preparado com um bolinho de feijão-fradinho artesanal, temperado com cebola e sal, frito em azeite de dendê e depois recheado com vatapá, vinagrete e camarão seco, o acarajé é servido “quente” ou “frio”, ou seja, com muita ou pouca pimenta. Essa receita, trazida ao Brasil por africanos escravizados há cerca de 300 anos, é uma comida sagrada no candomblé e na umbanda, sendo oferecido às orixás Iansã e Xangô. “Eu já tinha comido, mas meus filhos experimentaram hoje pela primeira vez. Pedi a versão sem pimenta, e eles gostaram. É importante conhecer as comidas de nossos ancestrais, e também saber que a vida não é só pizza e hambúrguer “, diverte-se Mara Guimarães da Rosa, moradora de São Caetano, e que veio curtir a festa com os filhos Rhian e Gustavo. Para a baiana de Canavieiras, Maria Lúcia Santos, 66 anos, e que há 15 prepara acarajés, participar da Expo é uma grande honra. Este é o segundo ano que ela traz suas delícias para a festa, e agradece pela oportunidade para os empreendedores negros que vivem em São Paulo. “É uma honra porque a gente passa por uma licitação, não é fácil. Tinha 350 pessoas inscritas e fica parecendo os alunos que prestam vestibular esperando o resultado”, sorri Maria Lúcia. Seu começo foi por acaso, mas hoje ela sente-se realizada. “Um dia eu vi uma baiana batendo a massa e fui falar com ela. Daí falei, acho que eu vou fazer isso aí também. Fiz o curso, tudo bonitinho, e comecei a vender. Não chegamos aqui sozinhos, sabe? No início eu não tinha nem roupa de baiana, mas um casal gostou do meu trabalho e me ajudou, hoje estou aqui”, emociona-se a mestre da culinária tradicional afro-brasileira.
Espaço de festa e reflexão
“Ô Maria, ô Maria; Vamos parar já com essa mordomia…”, a canção de Almir Guineto ecoava pelo pavilhão do Anhembi, interpretado pelo grupo Samba da Madrinha, com a participação do pagodeiro Darlan, enquanto a pequena Maria Júlia, filha de Jeferson e Edilaine Costa brincava em meio aos tecidos e ao colorido africano da feira de afroempreendedores. “O evento está sendo muito legal, não é a primeira vez que a gente participa. E eu, quando criança, não tinha espaços como esse para ir, então ter esse espaço, para mostrar para a Maria, minha filha, com quatro anos, essa representatividade, o cabelo, a beleza da mulher negra, ajuda a criar uma identificação. É muito importante ter isso aqui”, ressalta Jefferson. O dia que teve forró, afropunk, a MPB do Duo Avuá, Maria Rita e os Pretos tocando muitos clássicos, o axé de Reinaldinho e Emanuelle Araújo, só podia terminar em ritmo de aquilombamento, com samba de raiz, do Samba de Caboclo e Terreiro de Crioulo. Raiz preta, raiz africana, misturando a ancestralidade e as dores da negritude com a celebração das conquistas desse povo que ajuda a construir o Brasil há mais de 500 anos. Muito axé, e até o ano que vem!
São Paulo Antirracista
A Expo Internacional Dia da Consciência Negra é um evento gratuito da Prefeitura de São Paulo e aconteceu entre os dias 22 a 24 de novembro, no Distrito Anhembi, Pavilhão 3, Zona Norte de SP. Para acompanhar o trabalho do Farol Antirracista de SP acesse nossas redes sociais: @consciencianegrasp.
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