Crédito: Filipe Berndt - A Galeria Marília Razuk inaugura a exposição A cabeça de Jorginho, do artista Rafael Alonso, até o dia 05 de agosto. A mostra, composta por aproximadamente 50 obras, traz um conjunto de intervenções na arquitetura da galeria, com pinturas realizadas diretamente sobre as paredes e cerca de 30 obras inéditas em tamanhos, formatos e com materiais variados. Em comum, os trabalhos trazem cruzamentos entre alguns repertórios do campo da arte e visualidade mundana relacionada com o imaginário tropical, praiano e esportivo do Brasil. O pensamento crítico que anima o trabalho de Rafael Alonso é incisivo e implica o humor. O título da exposição refere-se a um personagem criado pelo artista. O Jorginho mencionado ali é um pintor “jovem” e “inconsequente”, filho da Mãe Mercado e do Pai História. Mas o cara é mimado mesmo por sua Vovó Pintura, que o tempo todo lhe atende os caprichos e lhe oferece paparicos, como um delicioso bolo de paisagem invernal, com muita tinta cremosa, nas cores azul e branca. Jorginho gosta de adrenalina e velocidade, pilota moto, pratica jiu-jitsu e só faz aquilo de que gosta. Para ele, “não há moral, não há conflito, apenas flutuação”. Ué, alguém chamou isso de “arte contemporânea”? A história de Jorginho foi escrita por Alonso como capítulo de sua tese de doutorado, defendida no ano passado, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A narrativa surge na mostra contada por uma voz feminina, reproduzida nos alto-falantes que compõem um dos trabalhos, Stardust Memories (2023). A obra completa-se com uma pintura em preto e branco e na qual estão representadas projeções da logomarca do Banco Nacional, concebida pelo artista e designer gráfico Aloísio Magalhães, no começo da década de 1970. A marca do extinto banco popularizou-se em âmbito mundial por meio do esporte, estampada no carro, no capacete e nas roupas do piloto de Formula 1 Ayrton Senna, alçado, por sua vez, à condição de herói nacional na segunda metade dos anos 1980. Todos esses dados e imagens formam a cabeça de Jorginho. Mas o que está na cabeça do tal Jorginho? Parece que é ali que a austeridade das formas abstratas, o juízo sobre faturas pictóricas e as regras do “bom gosto” são atropeladas por combinações vibrantes de cores, inclusive fluorescentes; pelo chichê do “espetáculo natural” das luzes nos céus litorâneos durante o pôr do sol; pelos degradês que estampam tantos e tantos itens da cultura visual do surf; por objetos largados e recolhidos das ruas; pela música pop, de rádio FM, dos anos 1980; pelo aspecto tecnológico das aberturas de programas televisivos da Rede Globo; pelas imagens de araras, coloridíssimas, em pleno vôo; pelos corpos, sungas, biquínis e óculos escuros com lentes espelhadas de banhistas em praias do Rio de Janeiro; e, embutidos aí, estão Phil Collins, Hans Donner, Renato Gaúcho e muitos outros. "Os trabalhos reunidos para essa exposição são resultado de aproximadamente 2 anos de pesquisa. A narrativa d'"A cabeça de Jorginho" propõe percursos de investigação formais e conceituais. Ora, através da desconstrução dos 'shapes' tradicionais das pinturas, ora inserindo a palavra como elemento estruturante, ora explorando signos visuais da cultura de massa brasileira a fim de produzir um comentário acerca de certas incongruências da sociedade contemporânea", conta Rafael Alonso.
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