O plenário da Câmara dos Deputados aprovou, nesta quinta-feira (20), o substitutivo da Medida Provisória 1018/20, que reduz três encargos incidentes sobre estações terrenas de pequeno porte ligadas ao serviço de internet por satélite. A matéria será enviada ao Senado. A proposta visa a redução no valor da Taxa de Fiscalização de Instalação e Funcionamento (TFI e TFF); da Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública (CFRP); e da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine). Estas taxas e contribuições são incidentes sobre as estações terrenas de pequeno porte. A proposta original tinha como objetivo fazer com que a diminuição dos encargos estimulasse o aumento desse tipo de serviço, que conta com 350 mil pontos. A estimativa é que o alcance do serviço poderia chegar a 750 mil estações, promovendo o incremento da banda larga por satélite. Entretanto, o deputado federal Paulo Magalhães (PSD-BA), relator da matéria, apresentou um PLV (projeto de lei de conversão) que promoveu profundas alterações na medida provisória original. O líder do PCdoB na Câmara, deputado federal Renildo Calheiros (PE), defendeu a ampliação do debate sobre a matéria, para que as contradições em torno das modificações pudessem ser aprofundadas. “O adiamento da votação nos daria a possibilidade de buscarmos esse reajuste para melhor defendermos o interesse do Brasil”, afirmou. Para a vice-líder da Minoria, deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o projeto de lei de conversão trouxe propostas que desfavorecem o cinema nacional, além de outras proposições contra a educação. “Todos queremos a inclusão digital, todos queremos o benefício do texto principal da medida provisória, mas não queremos algumas alterações que foram feitas no relatório”, salientou. “A medida provisória original tem um objetivo, que é a ampliação da banda larga no Brasil. E, para isso, ela vai trabalhando com alguns tributos. Por isso, os partidos que compõem a Minoria, prontamente se posicionaram de forma favorável, até porque o objetivo da ampliação da banda larga sempre foi bandeira nossa. No entanto, quando olhamos para o projeto de lei de conversão é necessário fazer um contraponto na questão do Condecine. Além disso, há também o problema do Fust, porque estão sendo retirados tributos importantes da educação, o que também não é aceitável”, afirmou. A deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), que preside a Comissão de Cultura da Câmara, criticou o substitutivo. Ela lembrou que, durante a pandemia de Covid-19, as empresas que oferecem conteúdos por streaming tiveram enormes lucros, enquanto a cadeia produtiva do cinema e do audiovisual nacional foi sufocada. “Todas as entidades do audiovisual estão apreensivas com essa votação. São 15 mil empresas que empregam do carregador de equipamentos de som e filmagem a artistas. Elas realizam filmes que são cartões de visita para o Brasil e infelizmente estão sofrendo com a retração dos recursos da Lei Rouanet, que não são liberados há três anos. Infelizmente, a Medida Provisória em debate foi modificada no elemento essencial”, apontou. Apesar do objetivo da proposta ter sido ampliar o serviço de banda larga em regiões mais remotas do país, um dos aspectos mais criticados pela oposição foi a introdução no texto de dispositivo para excluir as empresas que oferecem vídeo por demanda, como Netflix, do pagamento da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine). Estima-se uma perda de receita na ordem de R$ 150 a R$ 200 milhões anuais para o setor do audiovisual. A Bancada do partido apresentou destaque, que pretendia retirar do texto o trecho que impede o enquadramento de plataformas de streaming (vídeo por demanda) entre os contribuintes da Condecine. Ao defender a proposta, a deputada Perpétua federal Almeida (PCdoB-AC) ressaltou que a medida proposta pelo relator tratava-se de matéria alheia à medida provisória. Ela reiterou a postura da legenda, que sempre priorizou o apoio à cultura brasileira. “No momento em que mais precisa, tirar recursos do audiovisual, tirar recursos do cinema brasileiro, não podemos aceitar. Manter o texto da forma como ele está será um prejuízo muito grande para a cultura e para os profissionais que dependem do audiovisual. Muitas pessoas no Brasil vivem da cultura. E os brasileiros que gostam do cinema e da cultura também seão prejudicados”, reforçou. Todos os os destaques votados foram rejeitados pelo plenário. Entre outros pontos, o relator também incluiu dispositivos que tratam do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). O texto amplia a presença de membros do governo no Conselho Gestor do fundo e reduz a cobrança das operadoras de telecomunicações que executarem programas de universalização. O parecer reduz o recolhimento do Fust, em até 50%, das operadoras de telecomunicações que executarem programas de universalização aprovados pelo conselho gestor e com recursos próprios. Além disso, exclui da Lei do Fust a regra que exige que o fundo priorize investimentos em regiões de zona rural ou urbana com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Outra mudança impacta a parcela do Fust aplicada em educação. Hoje, do total dos recursos do fundo, pelo menos 18% são aplicados em educação. O parecer determina que serão 18% dos recursos da modalidade de apoio não reembolsável. Esta nova regra limita muito os recursos da educação pública.
Por Walter Félix
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